Atualmente, o termo “depressão” tem se igualado à noção de tristeza e pouco se entende sobre seu fator social, já que as tendências da psiquiatria abordam a doença a partir de um ponto de vista biológico e individual
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se que a depressão afeta mais de 300 milhões de pessoas no mundo, que cerca de 800.000 pessoas se suicidam a cada ano, que 78% dos suicídios ocorrem em países de baixa e média renda, e que o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
A depressão inclui sintomas como perda do sentido da vida, inibição, desesperança, sentimentos de vazio, infelicidade, um mal estar indefinível e generalizado, desinteresse pelo cuidado pessoal e por atividades que antes eram gratificantes, insônia ou hipersônia, fatiga ou perda de energia, dores de cabeça, transtornos alimentares, diminuição do desejo sexual, dificuldade de raciocínio e concentração, ansiedade, sentimentos de culpa, inutilidade e de um profundo e incontrolável sofrimento.
Algumas de suas consequências são o abandono do trabalho ou dos estudos, conflitos conjugais e/ou familiares, alcoolismo e dependência de drogas; do mesmo modo, a depressão não equivale a suicídio, mas este é uma possibilidade em casos graves. O nível depressivo – leve, moderado ou grave – dependerá do histórico psíquico de cada sujeito e dos recursos com os quais possa contar, como as redes de apoio de familiares e amigos.
No México, os índices de suicídio aumentaram catastroficamente, já que no ano de 1994 foram registrados 2.603 suicídios, e em 2016 estes números cresceram aproximadamente 200%, com 6.370 suicídios registrados. De acordo com dados do órgão mexicano Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI 2017), 41,3% destas mortes correspondem a jovens de 15 a 29 anos e 3,7% correspondem a adolescentes de 10 a 14 anos de idade.
Fonte: INEGI Estatísticas de mortalidade]
Além disso, é importante destacar que 8 a cada 10 suicídios no México foram cometidos no interior de domicílios particulares (76,2%), segundo dados do INEGI.
O tabu da depressão e seu fator social
Parece um paradoxo que, por um lado, o termo “depressão” seja cada vez mais utilizado e igualado à tristeza ocasional, mas por outro siga sendo um tabu que “deve” ser enfrentado em segredo e de maneira individual – como se sua aparição fosse um traço unicamente individual! Tal tabu transforma a depressão em sinônimo de suicídio, o que se torna um risco para os que dela padecem e são vistos com empatia.
No entanto, não é coincidência que a depressão e suas consequências, como o suicídio, tenham se transformado em uma das principais “doenças do século 21” e uma das principais causas de morte – ou que será num futuro próximo –, em especial para um amplo setor da juventude trabalhadora que vê quebradas suas esperanças de ter uma vida digna, já que as condições de trabalho em que os jovens se inserem a cada dia são mais golpeadas.
A depressão tem múltiplos elementos que não podem ser generalizados porque dependem de cada sujeito, como seu histórico familiar e psíquico; contudo, o fator social é determinante no seu desencadeamento e permanência. Como explica Ana María Fernandez em seu livro Jóvenes de vidas grises (“Jovens com vidas cinzas”), não se pode isolar o contexto social que impossibilita à juventude um planejamento de seu futuro, como têm feito as economias neoliberais que instituem na subjetividade uma quebra de esperança coletiva, o que corresponde a “toda uma estratégia biopolítica de vulnerabilização”.
Tais condições não podem ser explicadas sem se compreender o modo de produção capitalista que a cada dia é mais voraz, que busca aumentar seus lucros precarizando e empobrecendo a vida da classe trabalhadora de conjunto – somente no México há mais de 50 milhões de pessoas em situação de pobreza. E é neste cenário que a juventude se insere num mundo competitivo e a cada vez mais individualista – este setor representa um amplo exército de reserva no mundo do trabalho e enfrenta cada vez maiores dificuldades para estudar, já que possui as piores condições de trabalho e menos de 15% dos que prestam vestibulares para a universidade têm acesso à educação.
O transtorno depressivo e seu crescimento brutal parecem mais ser um sintoma de uma época que reflete a pouca esperança em relação ao futuro, causada pelas condições cada vez mais insustentáveis nas quais vive a classe trabalhadora. Não é de se espantar que este setor sinta um profundo desânimo e tenda à depressão crônica ou ao suicídio.
Como mostram os dados, a maioria dos suicídios ocorre no âmbito privado, mas também existem casos em que claramente se nota o determinante social, como aconteceu em 2012 com Dimitris Christoulas, o aposentado de 77 anos que se suicidou em frente ao parlamento grego. Em parte da carta encontrada nos bolsos do idoso que pôs fim à sua vida, se lia:
“O Governo de Tsolakoglou aniquilou qualquer possibilidade de sobrevivência para mim, que se baseava em uma pensão de aposentadoria muito digna que eu havia pagado por conta própria sem nenhuma ajuda do Estado durante 35 anos. E, dado que minha idade avançada não me permite reagir de outra maneira (ainda que, se um compatriota grego sacasse um kalashnikov [tipo de fuzil], eu o apoiaria), não vejo outra solução que não seja pôr fim à minha vida desta forma digna para que não tenha que acabar revirando lixeiras para poder sobreviver. Creio que os jovens sem futuro algum dia sacarão as armas e as apontarão boca abaixo aos traidores deste país na praça Syntagma, como os italianos fizeram com Mussollini em 1945.”
O capitalismo mostra a mais profunda barbárie contra o conjunto da classe trabalhadora a nível internacional. Por tal razão, dizemos: nossas vidas valem mais que seus lucros!
Sobre a individualização da depressão e a saída realmente necessária
Dentro do modelo hegemônico da psiquiatria, a depressão é encarada a partir do ponto de vista biológico, individual, a-histórico e associal, que pressupõe uma alteração bioquímica no cérebro, como o desequilíbrio dos neurotransmissores serotonina e norepinefrina.
Esta concepção contribui para que quem sofre desta doença não identifique claramente o que se passa, sofra em silêncio e se isole do mundo externo; além disso, fortalece a ideia de que seja um problema individual, e não social.
No geral, o tratamento para essa problemática consiste na medicação prescrita em um discurso individual e que garante os lucros da indústria farmacêutica. Estas medidas apenas buscam tapar o sol com a peneira e dão uma solução paliativa para os sintomas, mas não chegam à raiz do problema. Cada vez é mais frequente a medicação em idade precoce, seja em quadros infantis de depressão, insônia ou “hiperatividade”, o que faz com que os sujeitos sejam transformados em seres dóceis e produtivos. Se a pergunta é como a medicação beneficia o capitalismo…aí está a resposta.
É necessário construir e fortalecer os laços familiares e sociais que se veem fragilizados pela competitividade, como podem ser os laços de solidariedade entre os(as) trabalhadores(as), para que os sujeitos estejam melhor armados anímica e psiquicamente para enfrentar estas condições. Qualquer solução que não busque a transformação radical da sociedade será impotente, frente à problemática que se desencadeia a partir da precarização da vida e que nos arranca o desejo e o sentido de viver.
Fontes:
Ana Ma. Fernández, Jóvenes de vidas grises: psicoanálisis y biopolíticas
Lilia Esther Vargas (comp.), Lecturas de la depresión.
Tradução: Laura Scisci
Produção agroecológica é símbolo de resistência na Terra Indígena Pinhalzinho em Tomazina, no norte do Paraná. Desde 2011 é realizada na Terra Indígena a Feira de Sementes Crioulas e Mudas Nativas de Pinhalzinho.
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Um estudo da FioCruz publicado em junho aponta uma relação entre o consumo de agrotóxicos em Cascavel, uma das regiões que mais consome agrotóxicos no Paraná, com o número crescente de casos de malformações na região registrados nos últimos anos.
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Fonte: HBO Brasil